Em 10 anos, o Brasil conseguiu mais do que duplicar o número de formados
em Engenharia. Mesmo assim, precisamos de mais
São Paulo –
Poucas categorias profissionais ganharam tanto prestígio na história recente do
Brasil quanto os engenheiros. Seja por causa do pré-sal, seja pelas obras da Copa e das
Olimpíadas, só se fala que o país precisa de mais engenheiros. Advogados já
temos demais, argumentam alguns
A
Confederação Nacional da Indústria (CNI)
estima que, até 2014, o Brasil vai demandar 90 mil novos engenheiros no mercado
de trabalho, somados aos 854 mil inscritos hoje no Conselho Federal de
Engenharia e Agronomia (Confea). Tal número já é considerado praticamente
inalcançável, na avaliação da própria CNI
Com isso, o
país importa mão de obra e aumenta os salários
de quem já está dentro do mercado. De 2011 para cá, 6 dos 20 cargos que mais
tiveram valorização salarial são engenharias, segundo o site de emprego Catho.
O salário médio para um profissional na área de petróleo e gás (o site não
especifica o nível de conhecimento) passou de 5,6 mil reais para 8,8 mil reais
entre um ano e outro, com uma valorização de 55%.
Não se pode
dizer que o Brasil não reagiu à demanda nos últimos anos. Entre 2001 e 2010, o
número de formandos em Engenharia mais do que duplicou, saindo de 18 mil para
mais de 41 mil. Os números de cursos e vagas cresceram de maneira
exponencialmente maior que o PIB. Para o Confea, o Brasil começou a responder
ao estímulo por desenvolvimento depois da letargia econômica das décadas de 80
e 90.
Mesmo assim,
ainda estamos atrás na corrida por tecnologia. Dados do Banco Mundial
compilados pelo professor da Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de
Juiz de Fora (UFJF), Vanderli de Oliveira, mostram que 27% dos estudantes da
Rússia estão matriculados em cursos relacionados à tecnologia, incluindo
engenharia, enquanto no Brasil são 9% e, na China, 14%.
Confira três
mudanças que o Brasil precisa levar adiante para ficar em dia com os
profissionais engenheiros
1 Educação
na base
Desafio:
fazer mais gente se interessar por engenharia
Na última edição do PISA, o teste internacional de avaliação da educação, o Brasil não foi bem em ciência e leitura (para ambas as disciplinas ficou na 53ª posição, de um total de 65 países), mas foi um pouquinho pior em matemática (57º). Trata-se de um sintoma de fácil detecção: muitos alunos preferem passar longe dos números.
Na última edição do PISA, o teste internacional de avaliação da educação, o Brasil não foi bem em ciência e leitura (para ambas as disciplinas ficou na 53ª posição, de um total de 65 países), mas foi um pouquinho pior em matemática (57º). Trata-se de um sintoma de fácil detecção: muitos alunos preferem passar longe dos números.
Embora alguns
cursos de engenharia já há alguns anos estejam entre os mais concorridos nas
universidades públicas (no vestibular da USP do ano passado, engenharia civil
ficou à frente de medicina), quase 40% das vagas ficam ociosas, com
concentração nas universidades particulares. Ter mais engenheiros no Brasil
significa conseguir que mais alunos não tenham medo - e gostem - de matemática
e física.
“O professor
morre de medo da matemática porque ele não sabe (o conteúdo). Na pedagogia,
todo mundo morre de medo”, afirma o pesquisador em educação Cláudio de Moura
Castro, sobre o fato dos professores do ensino básico terem pouca afinidade com
ciências exatas.
Em 10 anos, o
Brasil conseguiu mais do que duplicar o número de formados em Engenharia. Mesmo
assim, precisamos de mais
No caso de
professores que se graduaram em matemática, o problema é inverso. “Eles
receberam uma formação de matemática avançada, mas nunca ninguém ensinou como
se chega em uma sala e ensina fração ou regra de 3”, diz Castro.
2)
Evasão
Desafio:
quem quiser engenharia, tem que querer ficar até o final
Dos alunos
que começam algum curso de engenharia, 43% não o terminam, segundo a Associação
Brasileira de Educação em Engenharia (Abenge). A grande maioria desiste logo
nos primeiros dois semestres. Ou seja, dos brasileiros que se dispõem a
enfrentar os números, grande parte acaba desistindo no meio da empreitada
“O sujeito
não vem bem preparado, não acompanha e abandona. Ele prefere outros cursos onde
teoricamente é mais fácil progredir”, afirma Vanderli de Oliveira, da UFJF e
diretor da Abenge
Terminar com
a evasão é um dos principais pontos do programa Pró-Engenharia, traçado pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e enviado
em 2011 para análise do Ministério da Educação, mas que ainda não saiu do
papel. O problema, segundo Vanderli, não é exclusivamente brasileiro e as
universidades não podem se furtar de lutar contra este cenário
“Não adianta
colocar a culpa no ensino médio. Temos que recuperar o aluno que chega para que
ele não abandone”, afirma o diretor da Abenge
O
especialista Cláudio de Moura Castro ressalta que as universidade de engenharia
tem que repensar os próprios currículos, pois ensinam muito mais do que o aluno
precisa e não se adaptam a ele. ”Você tem que ajustar a dificuldade do curso ao
aluno. Se ele chega no ensino superior, o pior que se pode oferecer é uma
matemática que está acima do nível dele. Um problema adicional nosso é que
temos uma grande relutância em aceitar que o aluno não sabe quase nada. O
ensino brasileiro tem vergonha”, destaca.
O resultado é
que a evasão nas públicas gira em torno de 40%, mas nas privadas, onde muitas
vagas já estão ociosas, o índice chega a 60%, segundo a Abenge.
3)
Engenheiros fora da engenharia
Desafio:
quem cursar e concluir engenharia, tem que visualizar carreira na área
Quando a CNI calcula que o Brasil vai precisar de 90 mil engenheiros até 2014, pode não parecer tão difícil, já que a estimativa é de que em 2011 tenham sido formados 47 mil.
Quando a CNI calcula que o Brasil vai precisar de 90 mil engenheiros até 2014, pode não parecer tão difícil, já que a estimativa é de que em 2011 tenham sido formados 47 mil.
Mas dos que
se formam, apenas 2 em cada 7 vão de fato trabalhar com engenharia. Ou seja, eu
preciso de muito mais formados. Como serão demandados 90 mil engenheiros,
teriam que se formar 321 mil profissionais. Quer dizer, se eu não mudar o
cenário atual, vou ter um déficit de 48 mil engenheiros”, afirma Luis Gustavo
Delmont, analista de desenvolvimento empresarial do IEL/CNI.
O fato é que
o Brasil precisa dos engenheiros para crescer. E os engenheiros só vão se
interessar pelo Brasil se o país crescer. Segundo pesquisa do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) de 2010, a demanda por engenheiros no país
aumenta 7% quando o PIB brasileiro sobe 3%. Quando a economia cresce 7%, a
procura por engenheiros aumenta 13%.
A dúvida que
fica é: quanto o Brasil vai continuar crescendo?